Baruch Spinoza Era Ateu
© Paulo Bittencourt
Meu filósofo favorito? Bento de Espinosa, internacionalmente conhecido como Baruch Spinoza.
Filho de judeus que fugiram da Inquisição portuguesa (seguidores da religião do amor de Jesus obrigavam judeus a se converter [quem não se convertia era morto]), Spinoza nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, em 1632. Estudou para ser rabino, mas foi expulso da sinagoga e comunidade judaica por causa de suas ideias, que foram consideradas tão chocantes e heréticas a ponto de fazer as autoridades judaicas não meramente excomunga-lo mas também amaldiçoa-lo e bani-lo e proibirem os judeus de se aproximar dele.
Esta é a maldição (original em português):
Com a sentença dos Anjos e o dito dos Santos, banimos, apartamos, amaldiçoamos e praguejamos Baruch de Espinoza, com o consentimento do Deus Bendito e o de toda esta Santa Congregação, diante destes santos livros, com os seiscentos e treze preceitos neles escritos, com a maldição com que Josué amaldiçoou Jericó, com a maldição com que Elias maldisse os moços e com todas as maldições que estão escritas na Lei. Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja em seu deitar e maldito seja em seu levantar, maldito seja em seu sair e maldito seja em seu entrar. Não quererá o Senhor perdoá-lo. Ele fumegará seu furor e zelo nesse homem, no qual jazerá todas as maldições escritas no livro desta Lei. E o Senhor arrematará seu nome debaixo dos céus e o apartará para seu próprio mal de todas as tribos de Israel, com todas as maldições do firmamento, escritas no livro desta Lei. […] Advertindo que ninguém lhe pode falar oralmente, nem por escrito, nem lhe fazer favor algum, nem estar com ele debaixo do mesmo teto, ou a menos de quatro côvados, nem ler texto algum escrito por ele.
Se as ideias de Spinoza são deslumbrantes ainda hoje, imagine no século XVII! Eram tão escandalosas que ele tinha certeza de que crentes em Deus o matariam. Por isso, providenciou para que Ética, sua obra literária que me converteu num naturalista, fosse publicado após seu falecimento.
Nesse livro, fazendo uso apenas de Lógica, Spinoza mostra por a + b que é impossível existir um Criador, pois, já que ele seria a única fonte de tudo, tudo o que ele criasse seria ele mesmo (feito do que ele mesmo é feito). O Criador não existindo, o sobrenatural não existe. Existe só o natural, ou seja, a Natureza. Esse é o motivo por que Spinoza chama a Natureza de Deus. A totalidade de todas coisas = Universo = Natureza = Deus. Resumindo, Deus é apenas um sinônimo de Natureza (“Deus sive natura”: Deus ou Natureza). Disso resulta que não há coisa alguma para ser adorada, nem ser algum a quem pudéssemos dirigir súplicas.
A cada segundo, em algum lugar do Universo, dezenas de estrelas explodem (ou implodem, convertendo-se em buracos negros), destruindo seus planetas. O nosso próprio Sol irá se transformar numa gigante vermelha e primeiro fritar, depois devorar a Terra. Aqui no Pálido Ponto Azul, temos, entre outras coisas, furacões, terremotos, animais devorando uns aos outros e doenças. Apesar de ser maravilhoso que na Terra haja vida, ela é extremamente frágil. Por exemplo, um asteroide de apenas 100 quilômetros de largura é suficiente para mandar toda a vida para os quintos dos infernos.
Panteísmo é venerar a Natureza. Porém, faz sentido venerar um “deus” violento, que está se lixando para nós?
Quem não acredita em Deus (em divindade alguma) é atheos. Spinoza não só não acreditava em Deus como inclusive afirmava que Deus nem sequer tem como existir (pois, como eu disse, Deus não poderia ser distinto de sua criação). Spinoza, então, não só era ateu como era até terrivelmente ateu!
O que o livre-pensador holandês de pais portugueses quer não é que veneremos a Natureza (Panteísmo), e sim que a amemos intelectualmente (“Amor Dei intellectualis”), buscando dela compreender o máximo possível.
“Todas as coisas excelentes são tão difíceis quanto raras.”(Frase final de Ética)